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passagens [prtcl 022]

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1.
Sentada ao fundo das escadas Olho para cima Não ouço o sobe desce Sobe desce Sobe desce habitual Apenas o silêncio A ausência de vai e vem Vai e vem Vai e vem No cimo das escadas apenas um candeeiro Que pisca pisca Pisca pisca Pisca pisca Sentada ao fundo das escadas olho para a rua Vazia e oca Sem ninguém naquele vai e vem Vai e vem Vai e vem Sem ninguém que olha para mim e me pede que me desvie Sem aquele sobe e desce Sobe e desce Sobe e desce Na rua mais abaixo passa o comboio Tuca tuca tuca tuca tuca tuca Não vejo lá para dentro Os vidros estão embaciados e o silêncio da rua ofusca-me o olhar No cimo da escada surge um vulto na noite cerrada Apenas desce, lenta e silenciosamente Pernas esguias e sorriso disfarçado pelo frio Apenas desce e encerra o meu próprio corrupio No fundo da escada mantenho-me inerte Cigarro ao canto da boca Puxa, trava e expira Esse ritmo abranda-me o pensamento As pernas esguias fletem-se junto a mim Senta-se e espera Que o vai e vem volte à rua na noite cerrada
2.
rebentam-se águas contra paredes de onde brotam as gotas os frutos do choque os filhos do embate robustas, colores, fartas ruidosas dentro do seu silêncio caladas perante o rugir da Terra filha do mundo os frutos da vida chocando contra um firmamento de gotas, reflectindo filhos que esperam a mama que pingue as gotas fundiram-se as lágrimas caiu uma gota
3.
Aquela que não veio Não veio aquela que esqueceu lembrada. Amar amada espada no dorso cravada doendo de bela. Sobre-corpo corpo-cálice a mão amada daquela que não veio Mão-adaga no peito cravada. (ao António Poppe)
4.
Quando a morte paira, um frio cortante inunda Quando o frio inunda, o medo consome Quando o medo consome, a ansiedade devora Quando a ansiedade devora, o coração acelera Quando o coração acelera, o calor invade Quando o calor invade, o sorriso esmorece. Sem sorriso a morte paira. Abre a janela e sente o raiar do dia. Sozinha. Deixa que o medo salte da janela. Sem medo, o calor cria rubor na face Com rubor na face, a cor regressa A cor traz com ela a coragem A coragem lateja nos músculos da face E o latejar não te permitirá deixar de sorrir.
5.
Quando a morte paira, um frio cortante inunda Quando o frio inunda, o medo consome Quando o medo consome, a ansiedade devora Quando a ansiedade devora, o coração acelera Quando o coração acelera, o calor invade Quando o calor invade, o sorriso esmorece. Sem sorriso a morte paira. Abre a janela e sente o raiar do dia. Sozinha. Deixa que o medo salte da janela. Sem medo, o calor cria rubor na face Com rubor na face, a cor regressa A cor traz com ela a coragem A coragem lateja nos músculos da face E o latejar não te permitirá deixar de sorrir.
6.
A noite de ferros feita Sobre os ombros e na seara, a noite de ferros feita. As portas todas viradas a sul, a fuga: corridas todas as distâncias das pernas verticais como a montanha que corre por dentro. A noite engole os quintais da infância. O corpo é um tanque de lavar à mão onde a esperança é esquiva: vem de noite, muito tarde para nos levar das mãos as pétalas do teu sorriso último: o alimento. A fé aumenta se alguém chega de muito longe, aduzindo-me ao violino aberto - um corpo com muito ar por dentro - que é, não o astro, mas a órbita forjada a martelo e fogo e engolindo-nos na noite toda a dor possível. Mas ninguém chega cantando onde no peito morrem as aves. E tu dizias: O coração é um animal lançado em alcatruzes a cem braças de profundidade. Os olhos desaparecem. a coisa que nos caça, os seus olhos, desaparecem. Não recordo se os ossos ou os frios lábios, se os postigos e a louca sedução dos candeeiros sobre o álcool das noites a sul, ou mesmo se a chuva sobre os pianos da estação, mas algo me escreveu no corpo que a ordem é peregrina do caos. E se a alvorada ameaça já a sua cantata sobre o gelo das âncoras da madrugada subo à mais alta mansarda que me arde no peito e escolho, de entre as armas, as que salvam e as que condenam. E se me calo agora é pois conclusa toda a raiva -migrada já para essas fundas águas – E conclusa a rasura dos inícios na comovida exactidão dos finais…
7.
8.
Às vezes, tantas vezes, quero alterar o ciclo natural das coisas Sempre, quase sempre, a cobardia ganha ao querer Querer que não é poder Poder, mas ter medo de falhar Teria de ser rápido Alterava-se o ciclo e a minha mãe veria Rapidamente o que nenhuma mãe quer ver Às vezes, tantas vezes, quero alterar o ciclo natural das coisas Quero que chova para que as amarras façam sentido Sempre, quase sempre, as amarras mantém-se num dia de sol a brilhar Querer não é poder Não posso mudar a noite pelo dia, nem o dia pela noite A chuva pelo sol e muito menos as amarras pela liberdade Às vezes, tantas vezes, quero alterar o ciclo das coisas Que as 60 pulsações se reduzam ao silêncio Sempre, quase sempre, espero reduzi-las a dormir Querer pode transformar-se em poder Mas a cobardia ganha ao querer

about

Passagens é a 22ª edição da Partícula em colaboração com o 2º número do Mecónio. É uma compilação que nasce de nova colaboração entre a equipa mais assídua da Partícula (João Sousa, Tiago Eira e Nuno Mangas-Viegas) e a Dark Owl (Margarida Azevedo e Ricardo Leiria). Junta, numa viagem atribulada, textos de Margarida Azevedo, Nuno Mangas-Viegas e João Sousa, lidos pelos dois primeiros, manipulados pelos restantes.
É parte do segundo volume do Mecónio, zine da Dark Owl, que traz consigo também uma entrevista à Partícula, poesia e fotografia do Nuno e fotografias suas numeradas com um código que permite fazer o download do disco.

credits

released July 9, 2021

Compilado e misturado por João Sousa
Masterização de Tiago Eira
Gota produzido e masterizado por Tiago Eira
Margarida gravada em Arruda dos Vinhos por João Sousa
Voz de Nuno Mangas-Viegas gravada pelo próprio
Julho 2021

(1)
Voz de Margarida Azevedo
Edição de João Sousa

(2)
Música de Tiago Eira
Voz de Nuno Mangas-Viegas
Texto de João Sousa

(3)
Texto e Voz de Nuno Mangas-Viegas
Flautas e Mistura de João Sousa

(4)
Voz e Adufe de Margarida Azevedo
Drone e edição de João Sousa

(5)
Texto de Margarida Azevedo lido por Nuno Mangas-Viegas
Instrumentos e electrónica de João Sousa

(6) (7)
Texto e voz de Nuno Mangas-Viegas
Instrumentos, sampling e electrónica de João Sousa

(8)
Texto e voz de Margarida Azevedo
Ambient de João Sousa

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