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1. |
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Sentada ao fundo das escadas
Olho para cima
Não ouço o sobe desce
Sobe desce
Sobe desce habitual
Apenas o silêncio
A ausência de vai e vem
Vai e vem
Vai e vem
No cimo das escadas apenas um candeeiro
Que pisca pisca
Pisca pisca
Pisca pisca
Sentada ao fundo das escadas olho para a rua
Vazia e oca
Sem ninguém naquele vai e vem
Vai e vem
Vai e vem
Sem ninguém que olha para mim e me pede que me desvie
Sem aquele sobe e desce
Sobe e desce
Sobe e desce
Na rua mais abaixo passa o comboio
Tuca tuca tuca tuca tuca tuca
Não vejo lá para dentro
Os vidros estão embaciados e o silêncio da rua ofusca-me o olhar
No cimo da escada surge um vulto na noite cerrada
Apenas desce, lenta e silenciosamente
Pernas esguias e sorriso disfarçado pelo frio
Apenas desce e encerra o meu próprio corrupio
No fundo da escada mantenho-me inerte
Cigarro ao canto da boca
Puxa, trava e expira
Esse ritmo abranda-me o pensamento
As pernas esguias fletem-se junto a mim
Senta-se e espera
Que o vai e vem volte à rua na noite cerrada
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2. |
Subasement - Gota
03:02
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rebentam-se águas contra paredes
de onde brotam as gotas
os frutos do choque
os filhos do embate
robustas, colores, fartas
ruidosas dentro do seu silêncio
caladas perante o rugir da Terra
filha do mundo
os frutos da vida
chocando contra um firmamento
de gotas, reflectindo filhos
que esperam a mama
que pingue as gotas
fundiram-se as lágrimas
caiu uma gota
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3. |
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Aquela que não veio
Não veio aquela
que esqueceu lembrada.
Amar amada espada
no dorso cravada
doendo de bela.
Sobre-corpo corpo-cálice
a mão amada
daquela que não veio
Mão-adaga
no peito cravada.
(ao António Poppe)
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4. |
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Quando a morte paira, um frio cortante inunda
Quando o frio inunda, o medo consome
Quando o medo consome, a ansiedade devora
Quando a ansiedade devora, o coração acelera
Quando o coração acelera, o calor invade
Quando o calor invade, o sorriso esmorece.
Sem sorriso a morte paira.
Abre a janela e sente o raiar do dia.
Sozinha.
Deixa que o medo salte da janela.
Sem medo, o calor cria rubor na face
Com rubor na face, a cor regressa
A cor traz com ela a coragem
A coragem lateja nos músculos da face
E o latejar não te permitirá deixar de sorrir.
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5. |
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Quando a morte paira, um frio cortante inunda
Quando o frio inunda, o medo consome
Quando o medo consome, a ansiedade devora
Quando a ansiedade devora, o coração acelera
Quando o coração acelera, o calor invade
Quando o calor invade, o sorriso esmorece.
Sem sorriso a morte paira.
Abre a janela e sente o raiar do dia.
Sozinha.
Deixa que o medo salte da janela.
Sem medo, o calor cria rubor na face
Com rubor na face, a cor regressa
A cor traz com ela a coragem
A coragem lateja nos músculos da face
E o latejar não te permitirá deixar de sorrir.
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6. |
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A noite de ferros feita
Sobre os ombros e na seara, a noite de ferros feita.
As portas todas viradas a sul, a fuga:
corridas todas as distâncias das pernas
verticais como a montanha que corre
por dentro.
A noite engole os quintais da infância.
O corpo é um tanque de lavar à mão
onde a esperança é esquiva:
vem de noite, muito tarde
para nos levar das mãos as pétalas do teu sorriso último:
o alimento.
A fé aumenta se alguém chega de muito longe,
aduzindo-me ao violino aberto
- um corpo com muito ar por dentro -
que é, não o astro, mas a órbita
forjada a martelo e fogo
e engolindo-nos na noite toda a dor possível.
Mas ninguém chega cantando
onde no peito morrem as aves.
E tu dizias:
O coração é um animal lançado em alcatruzes
a cem braças de profundidade.
Os olhos desaparecem.
a coisa que nos caça, os seus olhos, desaparecem.
Não recordo se os ossos ou os frios lábios,
se os postigos e a louca sedução dos candeeiros
sobre o álcool das noites a sul,
ou mesmo se a chuva sobre os pianos da estação,
mas algo me escreveu no corpo
que a ordem é peregrina do caos.
E se a alvorada ameaça já a sua cantata
sobre o gelo das âncoras da madrugada
subo à mais alta mansarda
que me arde no peito
e escolho, de entre as armas,
as que salvam e as que condenam.
E se me calo agora
é pois conclusa toda a raiva
-migrada já para essas fundas águas –
E conclusa a rasura dos inícios
na comovida exactidão dos finais…
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7. |
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8. |
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Às vezes, tantas vezes, quero alterar o ciclo natural das coisas
Sempre, quase sempre, a cobardia ganha ao querer
Querer que não é poder
Poder, mas ter medo de falhar
Teria de ser rápido
Alterava-se o ciclo e a minha mãe veria
Rapidamente
o que nenhuma mãe quer ver
Às vezes, tantas vezes, quero alterar o ciclo natural das coisas
Quero que chova para que as amarras façam sentido
Sempre, quase sempre, as amarras mantém-se num dia de sol a brilhar
Querer não é poder
Não posso mudar a noite pelo dia, nem o dia pela noite
A chuva pelo sol e muito menos as amarras pela liberdade
Às vezes, tantas vezes, quero alterar o ciclo das coisas
Que as 60 pulsações se reduzam ao silêncio
Sempre, quase sempre, espero reduzi-las a dormir
Querer pode transformar-se em poder
Mas a cobardia ganha ao querer
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Particula Lisbon, Portugal
Partícula began as a Podcast on webradio Stress.fm, At the sime time its curators started recording improv electronic
sessions.
Partícula was born because of that by 2017.
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